Microsserviços? Talvez depois

Por que o Monólito Modularizado é a arquitetura inteligente para o crescimento.

Existe uma pressão imensa no mercado para começar qualquer projeto novo já usando Microsserviços. Se você não está subindo 15 containers no Kubernetes no dia 1, parece que você está fazendo "legado". Mas, como líderes técnicos, sabemos a verdade: a complexidade operacional de microsserviços (orquestração, redes, tracing, consistência eventual) pode matar um produto antes mesmo dele ter usuários. Por outro lado, o medo do "Monólito" é real. Ninguém quer criar aquele espaguete de código gigante onde mexer na classe de Usuário quebra o relatório financeiro. A boa notícia? Existe um caminho do meio. Uma arquitetura que traz a simplicidade operacional do monólito e a organização estrutural dos microsserviços. Estou falando do Monólito Modularizado (Modular Monolith).


O que é um Monólito Modularizado?

Diferente do monólito tradicional (muitas vezes chamado de Big Ball of Mud), onde tudo se conecta com tudo, o Monólito Modularizado impõe limites rígidos dentro do mesmo código-fonte. Você constrói a aplicação como um único artefato de deploy (um único executável ou container), mas internamente, o código é segregado em módulos de negócios distintos (Bounded Contexts), que funcionam como se fossem serviços isolados.

As 3 Regras de Ouro da Modularização

Para que isso funcione – e para que você não acabe com um espaguete disfarçado – você precisa impor regras arquiteturais estritas. Não é apenas separar em pastas; é separar em conceitos.

1. Soberania de Dados (Sem JOINs cruzados)

Esta é a regra mais difícil e a mais importante. O módulo de Vendas não pode fazer um JOIN com a tabela de Clientes. Se Vendas precisa de dados do cliente, ele deve pedir ao módulo de Clientes através de uma interface pública. Por que? Porque se um dia você precisar extrair Vendas para um microsserviço real, você não terá amarras no banco de dados.

2. Interfaces Públicas Explícitas

Cada módulo deve ter uma "API Pública" (uma Interface C#, Java, ou um módulo Python exportado). Todo o resto dentro do módulo é privado. O Módulo A só conhece a Interface do Módulo B, nunca sua implementação interna.

3. Comunicação via Eventos (In-Process)

Ao invés de chamadas diretas o tempo todo, use um barramento de eventos interno (In-Memory Bus). Quando um Pedido é criado, o módulo de Vendas publica um evento PedidoCriado. O módulo de Envio escuta e reage.
Isso desacopla os fluxos exatamente como em microsserviços, mas sem a latência de rede e a serialização JSON.

Por que essa estratégia é inteligente?

Velocidade de Desenvolvimento: Refatorar uma interface dentro da mesma IDE é trivial. Refatorar uma API REST entre dois serviços distribuídos é um projeto de coordenação entre times. Infraestrutura Simples: Você tem um pipeline de CI/CD, um banco de dados (pode ser lógico) e uma aplicação para monitorar. O custo cognitivo e financeiro é baixo.
Performance: Comunicação em memória é ordens de grandeza mais rápida que chamadas HTTP/gRPC. A "Saída de Emergência": A melhor parte. Se o módulo de Relatórios começar a consumir muita memória e derrubar a aplicação, você pode extraí-lo. Como você respeitou as fronteiras e não tem acoplamento de banco de dados, mover esse código para um microsserviço separado é uma tarefa de "copiar e colar", e não de reescrita.

Conclusão

Não comece com a complexidade que você ainda não precisa. O Monólito Modularizado permite que você foque no domínio e nas regras de negócio agora, mantendo a porta aberta para a escalabilidade distribuída no futuro. É a arquitetura que permite a sua empresa crescer, sem quebrar o time de engenharia no processo